terça-feira, 24 de março de 2009

Para Entender a Internet (Se Você Não For Muito Burro, claro)


Aparente o negócio surgiu assim nonada. Juliano Spyder estava de bobeira na Campus Party, em meio aquele zoológico geek e teve o insight, que tal convidar cada um desses malas para escrever um pequeno texto sobre o assunto que mais dominam, de uma maneira clara que qualquer um, mesmo sem ter muita familiaridade com a Web, possam entender. Bem assim, bem no clima de massificação da Internet e da proliferação das lan houses como ponto de encontro das classes menos favorecidas. Assim, surgiu o livro Para Entender a Internet que, apesar deste título cretino, eu altamente recomendo.

Diz a lenda que foi fácil pra caralho. Em tempos de projetos colaborativos, a galera produziu sua parte mais animada que abelha em tampa de xarope. Em uma semana o livro estava pronto. Demorou um mês pra estar disponível o PDF apenas porque o Juliano achou tão fácil que resolveu convidar outras pessoas, que não estavam na festa, para ampliar ainda mais o leque das questões abordadas.

O livro é composto por vários capítulos escritos por evangelistas das novas mídias. Cada um escreveu sobre os babados que mais manjam. Por exemplo, Edney Souza, o Interney, um dos blogueiros mais conhecidos do Brasil hoje, é quem escreve sobre blog. Soninha Francine, vereadora, maconheira, atual sub-prefeita em São Paulo, escreve sobre internet e lei eleitoral. Fábio Seixas, um dos brasileiros mais seguidos no Twitter, fez o texto sobre micro-blogging. Sérgio Amadeu, ativista encardido do software livre, escreve sobre pirataria online. Ronaldo Lemos, um dos ativistas brasileiros mais conhecidos e respeitados internacionalmente, seja lá o que isso signifique, explica o que é o Creative Commons. E por aí vai a merda toda.

Eu vou colar aqui pra vocês, tal qual uma amostra grátis, um dos capítulos que eu achei mais interessantes do MEU ponto de vista. Desconfio que faço isso a um certo tempo, mesmo sem saber que tinha um nome pra isso. Não seus viados, não estou falando de malacologia, mas sim de Bridge-Blogging, ou Blogagem-Ponte.

Bridge-Blogging


Bridge-Blogging, ou Blogagem-Ponte, é o nome dado à atividade de blogar de modo a criar uma ponte entre dois grupos ou espaços distintos, geralmente pinçando conteúdos produzidos pelo primeiro grupo e agregando a eles material que permita a sua compreensão aos leitores pertencentes ao segundo grupo. A delimitação destes grupos ou espaços pode ser de natureza regional, social, cultural, linguística ou técnica, no caso de comunidades técnicas específicas, e frequentemente mais de uma destas diferenças existe entre os dois grupos entre os quais se realiza esta ponte.

O alcance virtualmente ilimitado que nos é dado pela Internet nos dá a impressão de que da sala de nossa casa ou de uma cabine de LAN-house podemos ter acesso a todos os conteúdos produzidos em todo o mundo e que estejam disponíveis na rede. Salvo bloqueios causados por censura governamental ou organizacional aos conteúdos disponíveis na rede, como é o caso da Great Firewall of China ou da proibição do acesso ao Orkut em muitas empresas, não estamos enganados ao pensar que todos os conteúdos nos são virtualmente acessíveis. Por outro lado, uma grande quantidade destes conteúdos pode estar sendo gerado em línguas que não falamos, ou por pessoas que assumem que seu público terá conhecimentos, paradigmas culturais e noções de contexto que nos podem ser alienígenas. Isto se torna particularmente verdade quando falamos das blogosferas globais.

Uma das principais características dos blogues é a linguagem direta e espontânea, sem preocupações formais e de contextualização, com que são escritos. Desta forma, quando eu, brasileiro razoavelmente informado, de classe média e com o domínio de no máximo dois idiomas além da língua pátria, tento acessar os blogues de Bangladesh, me deparo com uma série de problemas. Antes de mais nada, não falo bengali, uma das línguas mais frequentemente usadas na região. Posso, contudo, encontrar por lá alguns blogues que sejam escritos em inglês, uma língua que, até prova em contrário, domino razoavelmente. Mas mesmo vencendo a barreira da língua, nada me garante que eu conseguirei entender os fatores culturais e contextais nos quais o blogueiro está envolvido ao escrever sua blogada. O resultado é que, mesmo que eu entenda do que diabos meu colega bangladeshi está falando, certamente perderei boa parte da mensagem por não saber a quê ele se refere quando cita algo de conhecimento corrente para um leitor de seu país, ou quando faz um link para algum outro endereço que esteja escrito em bengali.

Uma situação semelhante, embora de outra ordem, pode ocorrer quando eu tento participar de uma rede de blogues de astrônomos em meu país. Posso, a princípio, pertencer ao mesmo contexto linguístico e cultural dos blogueiros, mas estou longe de dominar os mesmos conhecimentos que eles, e certamente não entenderei patavinas do jargão que usam para se comunicar entre si. Em tempo, patavinas quer dizer "coisa nenhuma" nas gírias usadas por meu pai, que acabei absorvendo.

Para permitir que os leitores globais consigam atravessar estes abismos existentes na rede, existe o trabalho do bridge-blogger. Este abnegado blogueiro, que porventura domina os conhecimentos linguísticos, culturais, técnicos e contextuais relativos aos dois grupos, irá pinçar conteúdos dos blogues de um grupo e citá-los, quando necessário traduzindo-os para a linguagem do segundo grupo, em sua blogada. Irá então incluir nesta mesma blogada todas as contextualizações e esclarecimentos necessários para que, usando o exemplo do parágrafo anterior, eu, um blogueiro brasileiro, possa entender as blogadas de meus colegas bangladeshis sobre a última onda de atentados e tensões fronteiriças com a Índia que assola seu país.

Um bom exemplo, entre tantos exemplos notáveis, desta atividade de bridge-blogging é o trabalho realizado pelo observatório de blogosferas Global Voices Online (http://www.globalvoicesonline.org). O Global Voices, que se propõe a observar e amplificar as vozes das blogosferas globais, conta com uma equipe de mais de 150 autores localizados nas mais diversas regiões do mundo, versados cada um em seus idiomas e conhecedores cada um de suas realidades regionais e culturais. Estes autores realizam então um trabalho de compilar as conversas correntes em suas blogosferas regionais ou linguísticas, produzindo artigos para o observatório Global Voices Online, nos quais citam as referidas blogadas, traduzem o conteúdo das citações, e contextualizam o leitor desconhecedor daquela realidade a respeito dos assuntos e situações abordados.

Estes conteúdos, compilados no observatório em língua inglesa, são então retraduzidos pela grande equipe do projeto paralelo Global Voices Lingua para mais de 16 línguas distintas, completando este intercâmbio de vozes e informações entre as mais diversas regiões e culturas. Desta forma, um leitor de língua portuguesa pode, ao acompanhar o site Global Voices em Português, atualizar-se sobre os recentes conflitos em Madagascar pelo ponto de vista dos próprios blogueiros daquele país, que relataram em seus bloges aquilo que estão vivendo em sua língua natal malgaxe. Isto se torna possível graças ao trabalho de bridge-blogging realizado pelas equipes Global Voices Online.

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Agora me digam, o meu texto sobre Individuacionismo, não é uma ponte entre os Centros de Estudos Junguianos e as redes sociais de ativismos libertários diversos? Perguntei pro Daniel Duende se era e o puto não se respondeu. Limitou-se a descer o sarrafo na minha crítica do Los Hermanos.

PS.: Como sou mala, vou fazer uma crítica aqui. Achei que pra ficar realmente afudê, o livro tinha que ter um introdução ou conclusão na forma de um texto mais profundo, mais analítico, escrito por um Alexandre Matias da vida (é o nome que me ocorre no momento, talvez existam outros ainda mais capazes) contextualizando todos os capítulos na grande revolução que a web representa.

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O livro pode ser baixado aqui.

5 comentários:

  1. Li o seu texto muito rapidamente,com muita prequiça e vagabundagem,mas gostei mesmo assim,dá mesmo pra baixar o livro?vou tentar...AH e vc fala outra lingua além do inglês,que foda!Alemão ou francês(acho que uma das duas)...quem sabe vc não faz traduções livres e deixa livros pra gente baixar...ah e já que vc fala tanto de Jung,deixa um livro dele tmb...Valeu Ari...
    Heitor Reis de Oliveira
    Salvador,BA.

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  2. mania de ler os comentarios antes de ler o post
    (:

    hahahah
    entao vc fala essas linguas todas??

    e o projeto da digitação do ' prometheus rising em pt' ?
    acho q consigo ajuda pra vc nessa.
    vcs poderiam revesar capitulos..

    e onde fica essa net por 3 + almoço??

    :P

    tatata

    vou ler agora

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  3. Aff!

    Heitor, pelo visto você cometeu uma merda dupla. Merda UM: leu tão rápido que não entendeu que o texto que colei era um capítulo do livro, escrito pelo Daniel Duende e ele sim, manja de mais de uma língua. Merda DOIS: induziu a Thais ao erro.

    Thais, isso responde tua primeira pergunta? Quanto a sua segunda pergunta, posso cherocar uns capítulos e te mandar pelo correio?

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  4. UI QUE BICHA REVOLTADA!ASSIM EU ME APAIXONO ARI...UHAAAAAAAAAA...
    HEITOR REIS DE OLIVEIRA
    SALVADOR,BA

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  5. "Scarneação" foi foda...uahahahaha!...parei aí quando vi a foto!...desculpe-me, sou ortodoxo cheio de paradoxo!

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