quarta-feira, 11 de março de 2009

Sobre Deuses, Relógios & Garranchos

Agora, com esse blog novo e com o simples fato de não aparecer delinquente escrito ali, na barra de endereços, me sinto mais livre pra falar de qualquer assunto. Não me peçam explicações para isso, é assim e pronto. Agora me sinto livre pra falar sobre qualquer merda. Ontem por exemplo, chegou pelo correio um envelope enviado pelo Reverendo Beraldo. Ele continha um zine que ele me enviou para distribuir nas escolas secundárias e um papel manuscrito. Do zine, falo outra hora, quero discorrer agora sobre o manuscrito. Não sobre o conteúdo, mas sobre manuscritos mesmo.

Na época em que morava no Recife, eu e uns amigos de MSN, se não falha a memória além do escriba aqui, Geo, Tio Jimmu, Cinco e o João Paulo, resolvemos criar uma espécie de confraria, onde trocaríamos correspondência da maneira ortodoxa: cartas escritas a mão e enviadas pelo correio. Escrevi uma pra Geo e pro Cinco, que são casados e dividiriam as atenções da missiva e uma pro Tio Jimmu. A Geo respondeu, uma carta muito simpática, diga-se, mas o PUTO do Jimmu respondeu no outro dia, por e-mail. E assim nossa confraria acabou.

O Cinco me contou que praticamente entrou em pânico diante do papel branco em sua frente na hora de escrever sua resposta. Fazia tantos anos que ele não escrevia a mão, que simplesmente não saía, estava travado, sentindo um terror pantagruélico de que batesse uma caimbra terrível a ponto de ele ser hospitalizado e acabar perdendo o emprego recém conquistado.

Tio Jimmu, em outro e-mail, desculpou-se dizendo que também não se sentia muito a vontade em escrever a mão, numa desculpa bem menos dramática do que a do Cinco. Então fiquei pensando, será que a escrita, a caligrafia e tudo mais se encontra em vias de extinção? Eu ficaria muito triste se isso ocorrer, pois comigo os textos saem muito melhores quando escrevo a mão e praticamente só escrevo assim. Tenho pilhas e pilhas de cadernos lá em casa, cheios de originais e vazios de originalidade.

Além do texto fluir melhor, escrever a mão pra mim é um passatempo e falo isso de uma maneira bem literal. Quando estou miseravelmente entediado e o tempo não passa, costumo escrever. É impressionante como não vejo o tempo passar. É como se eu estivesse possuído por Fotamecus.

- Fotamecus? Que caralho é Fotamecus?
- O que? Eu nunca falei de Fotamecus pra você? Nossa, que cagada de minha parte!

Fotamecus é um deus recentemente criado pelo pessoal da Magia do Caos para fazer frente ao linear Cronos, que até então administrava o tempo impunemente. Pois Cronos, seus problemas começaram! Dizem que Fotamecus é mais generoso com aqueles que divulgam seu santo nome.

Pois Fotty, ói eu aqui fazendo minha parte!

Baseado no comentário do Marcelo Seagal acerca do post das abelhas, onde ele simplesmente arriou as calças dos meus argumentos, constato que temos pessoas de ciência aqui nesse muquifo, logo, devo ser um pouco científico ao falar merdas do tipo elasticidade do tempo. Pois bem, também sei ser mala e vou discorrer um pouco sobre esta questão.

Toda vez que, na Cloaca Central da Existência que é o seu trampo, você olha pela janela aquela gostosa passar e lamenta com seus culhões que ela nunca será uma realidade na sua vida, que sirva de consolo que nem ela, esta visão paradisíaca, é a realidade, o mundo real.

Aquela gostosa é apenas uma imagem gerada pelo seu cérebro apartir de sinais enviados pelos seus órgãos dos sentidos. E que sinais! nénão? Ela é uma reconstrução que o cérebro faz, a partir de certos pressupostos implícitos que ele tem a respeito de como o mundo deve ser. Como se processa essa reconstrução?

Antes de mais nada, o cérebro produz o espaço, ou melhor, a espacialidade, e o tempo, ou antes, a temporalidade, que funcionam como uma estrutura de referência dentro da qual ele poderá situar as representações dos objetos. Observe que enquanto o que existe no mundo exterior seja um contínuo quadridimensional onde tempo e espaço não se distinguem, dentro de nossas cabeçinhas tempo e espaço são duas sensações completamente distintas. Inclusive são processadas em áreas diferentes. A espacialidade, no hemisfério direito. A temporalidade, no hemisfério esquerdo.

E tem mais um detalhe, oxalá o mais importante pra elucidarmos o tema em debate, que seria, a grosso modo, o mudus operandi de Fotamecus. No continuo quadridimensional exterior a nossa cabeça, espaço e tempo são estáticos. Somente em nossas cabeças o tempo anda, e o pior, enquanto Cronos apitava sozinho, de uma maneira linear.

Quem descobriu esse bug foi Albert Einstein em sua Teoria Especial da Relatividade. Para construir seu formalismo matemático e chegar a ela, Einstein utilizou um conjunto de equações conhecido como Transformações de Lorentz, nome extraído de seu criador. O que as transformações de Lorentz fazem é converter as coordenadas da geometria euclidiana, composta por apenas três dimensões, para um sistema de coordenadas de quatro dimensões, no qual o papel da quarta dimensão é desempenhado pelo tempo.

Quando você olha a tezudona pela Janela de Sua Senzala, seu cérebro faz o inverso das Transformações de Lorentz, convertendo um sistema de quatro dimensões para um de três. Voltamos assim, aos braços de Euclides. A dimensão que se perde nessa putaria é o tempo. Para corrigir essa cagada, o cérebro simula ( veja bem seu cuzão, simula! ) a dimensão temporal através da sensação ( veja bem de novo, seu bosta, uma sensação! ) de temporalidade, que, de acordo com estudos das neurociências e da cronobiologia é baseado nos ritmos corporais, sobretudo o coração.

Nessa hora, entre os leitores mais atentos, deve surgir essa dúvida: por que o cérebro precisa fazer toda essa ginástica? Não sei. Provavelmente devido a um contingência evolutiva mamífera, questão de sobrevivência, embora aqui eu esteja meramente especulando. Seria interessante se fossem feitas mais pesquisas científicas nessa área, que até agora só tem sido explorada pelos místicos. E é justamente nessa área que o deus Fotamecus atua. Uma vez que, de acordo com Grant Morrison em seu manifesto Magia Pop deuses são estados mentais, nada mais de acordo de que seja possível que Fotamecus trabalhe no hemisfério esquerdo, onde o simulacro do tempo é criado.

Uma experiência que nunca fiz e que talvez fosse interessante, seria observar se existe alguma diferença em termos de elasticidade do tempo quanto ao tipo de texto que eu escrevo, isto é, se é um texto poético, onde o hemisfério esquerdo está dando as cartas ou um texto mais intelectual, racional, onde o direito comanda.

Não sei se esse texto que concluo aqui neste parágrafo é poético ou racional, o que sei que a manhã passou rapidona tal qual um neutrino adentrando a atmosfera terrestre e vou almoçar muito agradecido a Fotamecus e porque não, ao Reverendo Beraldo, que traduziu o texto sobre ele para nossa língua lusitana e ainda me enviou a deixa pra começar a escrever essa merda toda. Obrigado Fotamecus. Obrigado Beraldo e um sincero pedido de desculpa a você leitor, que perdeu seu preciso tempo ilusório lendo tudo isso.

PS.:Tú tá achando que eu mudei de assunto de uma maneira um tanto rude, né seu verme? Mas saiba que as primeiras formas de escrita, surgidas em priscas eras la na Suméria, pictóricas e hieroglíficas, eram consideradas sagradas. Os sumeróglifos ancestrais representavam divindades. Até o alfabeto, que supostamente substituiu a pictografia por sinais abstratos puros, esconde sua própria origem mítica que reaparece nos sigilos dos Magos do Caos, nos abedecedários infantis que "significam" várias coisas e nos empolgantes caracteres criados pelos únicos artistas dignos de nota em nossos dias: os geniais pichadores de rua. Então, nem mudei tanto de assunto assim, apenas fiz mudanças de perspectivas. Não sejamos tão aristotélicos, rapazes. Ziguezagueemos!

8 comentários:

  1. Pô, Ari... Eu tenho 25 anos. Quando eu era bem novinho (5, 6 anos), eu tinha uma máquina de escrever Olivetti que eu brincava sempre, e ía escrevendo meus delírios infantis...
    E entrei na datilografia (isso mesmo, datilografia) com 9 anos de idade. Eu digito desde então... Eu tenho computador desde os 10 anos.
    Eu sempre estruturei melhor meu texto no computador. Dá pra trocar um parágrafo de lugar, apagar sem rasurar, mandar os parágrafos que você não usou pra outro documento e reciclar caso achar legal... Inserir uma frase no meio de um parágrafo...
    E escrevendo com lápis ou caneta, minha mão não acompanha a velocidade do meu pensamento. Digitando também não, mas pra mim é muito mais rápido.
    Eu ainda não conhecia Fotamecus. Bom, ainda não conheço muito, o link pro pdf não funcionou. De qualquer maneira, já sou um seguidor.
    Mas que a sensação de tempo expande e contraí, acelera e desacelera, isso com certeza.
    Uma vez eu e um amigo começamos um projeto de enviar cartas, e o projeto era gigantesco. Cada um teria que mandar 333 cartas pra cada um. A primeira com 666 caracteres, a resposta com 665 caracteres... E assim por diante. A gente não passou de 660. Huahuahua!
    Podia rolar uns papos discordianos primeiro com 23 palavras, depois 22 palavras, e assim até atingir o vazio, que eu acho que seria a comunicação zen.
    Bom, deixa eu parar por aqui se não meu comentário vai virar um post paralelo. Abraço!

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  2. ahá
    essa madrugada escrevi duas dessas tais cartas manuscritas
    sync eh foda.

    quer trocar cartinhas comigo timpin?
    :)

    prometo q nem divulgo teu endereço pra abin
    LOL
    ;P

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  3. Ei Timpim,vc nunca mais falou comigo,será que sou tão chato assim?O tempo demora quando conversamos?
    Acho que vc me bloquiou no MSN,SE FOR ASSIM,acho que nem Cronos nem Fontamecus resolvem o problema de Pênia,pobreza....Tudo bem sem viadagem,leia pelo menos 2 textos que escrevi no CMI,os links estão na sua caixa de e-mail ou no comentário do outro blogg
    Vou postar como anônimo,pois não conheço os outros perfis,mas vc sabe que sou Heitor Reis de Oliveira
    Salvador,BA

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  4. Quando tu parar de chorar a gente conversa. É foda entender o que tu fala em meio aos soluços.

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  5. Valeu Ari,a gente conversa depois,mas vê se deixa de ser chato e libera logo o messenger;seu texto que fala sobre o mendigo que sabe alemão e lê Willian Reich é foda,vi de relance no banco do ponto de ônibus em frente a minha casa,quando fui procurar emprego,um mendigo lendo um livro,tive vontade de voltar,perguntar que livro era aquele,conversar com ele,mas tive medo de ele me achar intrometido.......
    Heitor Reis de Oliveira
    Salvador,BA.

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  6. O que vc falou sobre o tempo me fez lembrar duas coisas,três na verdade...uma é que eu me arrependi de não ter trocado no sebo aquela penca de livro chato que tenho pelo livro de Stephen Hawking:Uma Breve história do universo,a segunda coisa é que eu quero ler pela segunda vez o livro de mitologia grega que tenho,mas sempre adio,a terceira coisa é que essa merda desse tempo em que estou desempregado,fudido...sem nem sequer a passagem de ônibus demora a passar...MERDAAAAAAAAAAA...ops esqueci que vc não gosta de choro...
    Heitor Reis de Oliveira
    Salvador,BA.

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  7. escrever é terapeutico pra doidos sozinhos tristes maniacos como vc. como td mundo alias...
    meu querido, um beijo e va se ferrar =)

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  8. hehe, de nada, Ari. Seja como for, cartas são interessantes. Você não disse que iria responder? Estou esperando! haeuheau

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